Toda decisão de design tende a ser muito complexa, porque quando falamos acerca de decisões, dizemos sobre abrir mão de uma série de opções disponíveis. Fazer uma decisão, neste caso, é avaliar a plausibilidade de uma opção de acordo com sua finalidade, excluindo qualquer outra.
Escolher um tipo para um projeto, desta forma, também é uma tarefa desafiadora. Precisamos levar em consideração uma série de valores e variáveis, como a personalidade do projeto, seu tom de voz e humor.
Os tipos possuem personalidade, podendo ser formais ou informais, festivas ou até mesmo tristonhas. E para definição disso, temos que ter em mente sempre as 3 principais funções da tipografia:
- Convidar à leitura;
- Revelar o teor do texto;
- Tornar a estrutura clara;
E antes de qualquer coisa, quero falar sobre dois assuntos preliminares: classificação de tipos e combinação tipográfica. E nos tópicos seguintes, darei dicas práticas sobre como trabalhar em prol da escolha mais adequada para um projeto de Design.
Mas antes, uma observação: o que vou falar a seguir são frutos de experiências pessoais somadas à leitura de três livros essenciais sobre Tipografia: Linguagem invisível da tipografia, Tipografia e Elementos do estilo tipográfico.
Classificação dos tipos
Antes de seguir para o próximo passo, recomendo que leia meu artigo sobre o que todo designer precisa saber sobre tipografia, com certeza vai somar bastante na compreensão do que falarei na sequência.
Existem dois tipos gerais de classificação tipográfica, e estes conhecemos como serifada e não-serifada. “Mas Éricles, por que saber sobre isso para escolher tipos para o meu projeto?” Bom, entender isso é vital para afunilarmos nossa pesquisa.
Normalmente, tipos serifados costumam ser mais clássicos enquanto os não-serifados são mais modernos. Claro que essa lógica não se repete em todos os tipos com ou sem serifa, o ideal neste momento é entender a regra como norteadora.
Além destas, também temos os tipos cursivos e decorativos. E aqui quero frisar um ponto muito importante sobre as últimas classificações: é preciso ter muito cuidado, pois esses tipos possuem baixa legibilidade e leiturabilidade.
Combinação tipográfica
Compor significa fazer escolhas, e compor bem significa fazer as escolhas certas. Tipos serifados podem harmonizar muito bem com tipos sem serifa, criando contraste. Se você quer estudar essas composições de uma maneira mais simples, recomendo que conheça o site Fontpair.
Nele você consegue ver uma série de combinações que funcionam muito bem e são usadas por outros designers, além de estar disponível para download e visualização em um projeto real.
E falando sobre projeto real, outro site que pode ajudar na compreensão de combinações tipográficas é o Fontsinuse. Lá você vê impressos com os tipos utilizados, contando um pouco sobre sua história e tipógrafo responsável.
Sem mais delongas, vamos para as 5 dicas!
1- Propósito do projeto
O passo zero para avaliar uma boa escolha de tipos é o propósito do projeto. Se você leu meu artigo sobre Briefing, sabe bem do que estou falando.
Nesta etapa é onde montamos a estrutura e o primeiro norte das decisões de qualquer projeto de Design, e com a escolha dos tipos não seria diferente.
Projetos possuem humor, voz e estilo, e para respeitar isso, é necessário que a tipografia comunique a mensagem tal qual o conteúdo precisa expressar.
Lembra que falei sobre as classificações tipográficas? É aqui que definimos qual/quais classificações podemos selecionar para o nosso inventário.
Se preciso passar uma mensagem mais aconchegante, um tipo rounded pode funcionar muito bem. E se preciso de classe e tradicionalismo, a boa e velha serifada é uma boa pedida.
2- Conhecer o público
Esse passo é ignorado por muitos designers. Esquecemos que se existe uma demanda, existe alguém com um problema que precisa ser solucionado. E aqui entendemos sobre quem precisamos ajudar.
Algumas características do público falam muito sobre como podemos refinar nossas buscas sobre o estilo tipográfico. Se o público é classe alta, como devo me comunicar com os tipos? E se for um público infantil? Devo levar em consideração a alta legibilidade se o público for mais velho?
3- Legibilidade e Leiturabilidade
Aqui vamos separar a escolha tipográfica a partir de dois objetivos: os tipos para visualização e os tipos para leitura.
Os tipos para visualização tendem a fazer parte da classificação cursiva ou decorativa. Em outras palavras, estes são apenas para textos curtos, onde não existe a necessidade de contar com um fluxo de leitura fluido.
Já os tipos para leitura precisam ter, acima de tudo, uma boa leiturabilidade. Lembra que falei acima que uma das funções dos tipos é tornar a estrutura clara? Para isso precisamos dar vazão ao entendimento acerca do conteúdo.
E duas dicas que posso dar aqui são: 1) textos pequenos com serifa tendem a dificultar a leitura e 2) é preciso usar as fontes decorativas com muita parcimônia.
4- Pesquisa de Similares
Os similares indicam o quanto determinada ideia funciona ou não. Para isso, introduzimos o conceito de modelo mental do leitor. Certos tipos de leitores costumam consumir certo conteúdo a partir de determinada linguagem tipográfica. Entendendo isso, podemos afunilar mais uma vez a pesquisa sobre o tipo mais adequado.
E para além da pesquisa, é preciso abrir a mente para um consumo crítico de todo esse conteúdo. A minha dica neste tópico é: visite sites, leia publicidades nas ruas, assine alguma revista. E não só isso, se pergunte a todo momento o porquê de uma escolha tipográfica e não outra.
Um artifício é utilizar identificadores de fontes nas pesquisas. O que uso é o Whatfontis e uma extensão do Firefox chamada Whatfont. Com este artifício, consigo ter não só acesso ao tipo utilizado em determinado projeto, como seus similares.
5- Experimentação
É tudo sobre experimentação!
Não adianta cair no campo teórico se a prática não for presente, e tenho aprendido intensamente isso nos últimos meses.
Não se contente em observar e inferir sobre a viabilidade de um tipo para determinado projeto, teste, crie alternativas e use do senso crítico para apontar os motivos dos tipos não escolhidos, e também boas justificativas para os que foram escolhidos.
E lembre-se de ponderar o respeito às regras, pois como disse o tipógrafo Erik Spiekermann: bons designers aprendem todas as regras antes de começar a quebrá-las.
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