Refação e alterações são palavras que arrepiam muitos designers. Todo designer cria uma expectativa ao apresentar o projeto para um cliente e no aguardo que este seja aprovado de primeira. Bom, sabemos que no mundo perfeito isso acontece, mas no mundo real o projeto costuma voltar com uma série de alterações.
E antes de continuar este artigo, quero clarificar a diferença entre esses dois termos. Alterações são mudanças simples no projeto, seja ela de posicionamento, cor, ordem dos elementos, etc. Já a refação consiste em mudanças substanciais, onde absolutamente nada do projeto original é reaproveitado.
Todos sabemos o quanto alterações e, sobretudo, refações, são cansativas para ambos os lados, seja para o designer que acaba investindo tempo extra no projeto, seja para o cliente que tem o prazo de entrega estendido.
E é nesse momento que precisamos ter uma compreensão holística sobre a razão das refações. Se falamos que um dos pilares da forma de pensar do designer é a empatia, devemos compreender que olhar para o lado do cliente é exercer essa empatia.
Com base nisso, falarei 5 maneiras de como evitar as temidas refações. Para completar o aprendizado, assista também ao meu vídeo:
1- Ciclos de entrega curtos
Imagine que você está preparando um molho para o seu macarrão e joga sal, orégano, salsinha entre outros temperos, mas não tem certeza sobre o gosto do que está fazendo, mas confia 100% nas suas habilidades.
Não tem como ter certeza de que o resultado final (macarrão), ficará bom, pois existe uma forte dependência de como este molho ficará. Caso o molho fique salgado demais, o macarrão também ficará. Caso fique salgado de menos, o macarrão também ficará.
O que quero dizer com isso? Os ciclos curtos de entrega se baseiam em validações mais rápidas. Significa pegar esse molho e ir experimentando enquanto o macarrão ainda não entrou na panela.
No idioma do designer, isso é equivalente a processos mais bem definidos e pequenas entregas durante o projeto. Significa validação de moodboards, mapas mentais, linha de pesquisa, conceito etc.
2- Ouvir o cliente
Não adianta se trancafiar no escritório e achar que a melhor das soluções virá de uma inspiração divina. Já escrevi sobre isso aqui no Designerd, e sabemos que criatividade é fruto de muita pesquisa e entendimento do problema, não de um momento único de insight.
Se você não escuta seu cliente nas etapas, sobretudo as mais iniciais, é evidente que sua solução será rejeitada e não progredirá.
3- Alinhar expectativas
Este é um termo muito falado na publicidade, e no nosso caso pode ser muito bem aplicado. Alinhamento de expectativa diz sobre o quando nos sintonizamos com a espera do outro.
O cliente pode estar esperando algo totalmente surreal, enquanto sua solução visa algo concreto e possível de acordo com sua experiência. Para deixar ambos na “mesma página”, é de extrema importância que haja uma conversa prévia que busca entender o que esse cliente espera de você.
4- Bom briefing
Um bom briefing é um insumo fundamental para um bom projeto. Arrisco dizer que apenas com um bom briefing é possível alcançar um bom entendimento de expectativas e compreensão do projeto.
Esse é outro tema que já falei por aqui. Mas como um bom briefing pode ajudar a minimizar (quiçá evitar) refações? Um bom briefing consiste em boas perguntas, em formas inteligentes de extrair informações. Entenda primeiro as informações necessárias para um bom trabalho, e depois formule isso em documentação.
Uma pergunta matadora (e que aprendi com o meu mentor Fábio Kerk) é: o que você espera da minha entrega? E melhor ainda, uma pergunta filosófica no pré-briefing: por que você me escolheu para resolver esse problema?
Formalize esse mindset e com certeza o número de alterações dos seus projetos cairá!
5- Outros pontos de vista
E a última dica: Design é feito para os outros. A partir de pontos de vistas diversos que se consegue construir as melhores soluções. Pessoas diferentes pensam diferente, e coisas que você como designer não percebeu, uma pessoa comum pode perceber.
E muitas vezes estamos tão imersos em nossos processos que deixamos de olhar para coisas importantes que podem definir o rumo da mensagem que estamos construindo.
Minha dica é: compartilhe com outras pessoas as soluções que você está construindo. Isso, alinhado aos ciclos de entrega curtos, fará com que o projeto vá se modelando no percurso, evitando rejeição na entrega.
Desconstruções
Para finalizar este artigo, quero falar sobre coisas que foram instituídas e que não refletimos sobre e levamos para frente sem reflexão.
Design não é arte! Por fomentar essa imagem de artístico, intocável e incriticável, designers não se permitem mudanças ao longo do processo e acabam entregando “soluções” que não são adequadas às necessidades dos cliente.
A outra desconstrução que quero propor é que alterações não são coisas ruins. Alterar significa que estávamos no caminho menos adequado e agora estamos nos alinhando para a melhor entrega possível. Então, fique feliz de ser alertado!
E por fim, pitacos são muito importantes. Lembra do designer de ateliê que falei? Aquele que se tranca no escritório em busca da inspiração e insight divino? Este não vai ao encontro dos outros pontos de vista, não aceita pitacos, pois “ele quem sabe o que está fazendo”.
Todo ponto de vista é extremamente válido, e quando entendermos que Design é puramente solução de problemas, entenderemos que as alterações nos aproximam de caminhos mais adequados para melhorar a vida de alguém.
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